segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ensaio Filosófico - Clonagem

SERÁ A CLONAGEM HUMANA ETICAMENTE ACEITÁVEL?

- Por Joana Cardão, nº 11, 10º C

Chama-se clonagem ao processo pelo qual se produzem, a partir de um só organismo, vários indivíduos geneticamente iguais ao primeiro. Aos descendentes idênticos ao original, chamam-se clones. Será isto novo na natureza? Não. No reino vegetal existem muitos exemplos deste fenómeno. Quem é que não experimentou levar um ramo de uma planta do jardim do vizinho, na esperança de que se desenvolva no seu próprio jardim? No reino animal também se dá este fenómeno, sobretudo em seres menos evoluídos, como por exemplo, as bactérias. E pode mesmo dar-se acidentalmente nos animais evoluídos, como os mamíferos, incluindo o homem: nos irmãos gémeos verdadeiros. Há duas possíveis aplicações para a clonagem humana: a clonagem terapêutica e a clonagem reprodutiva, sendo esta última a analisada neste ensaio.
Importa chegar a um consenso acerca da moralidade da clonagem pois, enquanto não o fizermos, poderemos estar a privar as pessoas de gozarem um novo meio de reprodução injustificadamente. Vou, neste ensaio, defender que a clonagem humana reprodutiva não é eticamente aceitável.
São diversos os argumentos contra a clonagem, destacando-se o da identidade, que defende que a clonagem de seres humanos impedirá estes de terem uma identidade própria. No entanto, refuta-se que os clones apenas teriam o mesmo ADN que os seus progenitores mas provavelmente personalidades diferentes, uma vez que se desenvolveriam em gerações e ambientes distintos. Por exemplo, no caso dos irmãos gémeos verdadeiros (já referido anteriormente) que possuem o mesmo código genético, o seu nascimento não é indesejável. Porém, penso que este contra-argumento não invalida o facto dos clones, assim como gémeos verdadeiros, terem uma maior probabilidade para crises de identidade e de existência. A cópia genética, ou clone, cria uma desigualdade enorme em prejuízo do clone. O saber demasiado sobre o clonado, o seu destino e as suas possibilidades, anula as hipóteses de um normal desenvolvimento psíquico. Se respeitarmos o direito de toda a vida humana a encontrar o seu próprio caminho e ser uma surpresa para ela mesma, então a clonagem fica vedada.
Outro dos argumentos é o chamado de instrumentalização: aqueles que querem ser clonados poderiam tratar os seus clones como simples meios para alcançar determinados fins. Algumas pessoas defendem que este aspecto é improvável e que qualquer pessoa pode ter este tipo de atitude perante outra sem que esta seja seu clone. No entanto, na minha opinião, será muito mais provável isto acontecer no caso dos clones, pois este teria um conjunto de características determinadas e conhecidas a priori o que levaria ao possível planeamento duma instrumentalização pré-concebida. E isto seria como um atentado à dignidade do outro, enquanto ser humano.
O perigo da eugenia (selecção de indivíduos com características genéticas consideradas desejáveis): as pessoas poderiam recorrer à clonagem para tentar ultrapassar a sua longevidade, através da perpetuação do seu ADN; criar grupos de pessoas geneticamente iguais, para desempenharem uma determinada função (por exemplo, clonar pessoas altas, para que estas constituíssem uma equipa homogénea de basquetebol) ou até clonar celebridades para que os filhos (clones) herdassem o talento deles – onde se aplicaria, mais uma vez, a instrumentalização. Existem ainda objecções bastante fortes à clonagem como sendo a da diversidade da natureza. Uma das nossas particularidades é a enorme variedade genética que é a principal garantia da sobrevivência das espécies e biodiversidade, sendo esta ampla e fascinante no ser humano. No entanto, se com o desenvolvimento da clonagem, as pessoas começassem com regularidade a recorrer a técnicas desta natureza, a tal diversidade poderia de certa forma extinguir-se progressivamente. Por exemplo, devido à clonagem, todas as bactérias são iguais, e um antibiótico específico adequado mata-as a todas. Da mesma maneira, se tivermos uma população de seres humanos todos iguais resultantes de clonagem, o que afectasse um, afectaria igualmente todos, pondo em perigo a própria sobrevivência da espécie.
Outro dos argumentos fortes contra a clonagem acaba por ser a baixa taxa de sucesso desta em mamíferos. O nascimento da ovelha Dolly, por exemplo, foi o resultado de 276 clonagens fracassadas, e há indícios de que os clones criados com a tecnologia actual poderão nascer defeituosos e ter uma esperança de vida bastante inferior à média. Afinal Dolly morreu com apenas 6 anos de idade, quando o normal seria cerca de 12 anos, e de doenças que normalmente afectam indivíduos idosos. Daí a clonagem não ser o caminho para a imortalidade. Se se decidisse clonar seres humanos, teria que se proceder como com os animais: com tentativas e erros, o que significa que propositadamente, se vão criar grande número de vidas humanas inviáveis ou afectadas. Dado isto, será justo poder sacrificar centenas de vidas humanas para que se obtenha a cópia de uma?
Assim a objecção dos custos humanos evidencia o facto do aperfeiçoamento da técnica de clonagem levar à destruição de vidas humanas e à concepção de crianças com deficiências, assim como ao facto da esperança média de vida dos clones ser inferior à média (já referido anteriormente).
A razão que pode levar a justificar a clonagem humana, é a ignorância sobre a dignidade de uma pessoa. Citando Kant: “No reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode pôr-se em vez dela, qualquer outra coisa como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade”. Um animal não é o seu genoma, e muito menos o é o homem. Fabricar clones de seres humanos, sob a falsa crença de que assim conseguiríamos seres idênticos a todos os níveis, supõe materializar efectivamente os seres assim obtidos, reduzi-los à categoria de objectos. Esquecer-se-ia o valor da dignidade humana. A clonagem nega, na sua própria essência, que os seres humanos possam ser fim em si mesmos. Quer dizer, a clonagem supõe um ser criado para algo, daí a imoralidade desta operação.
No entanto, há quem concorde com a clonagem para ter um bebé. Por exemplo, pais que perderam um bebé e querem substituí-lo, ou pessoas que querem ter os seus próprios filhos mas que não conseguem da maneira tradicional. Por exemplo, nos casos em que um homem não consegue produzir esperma, pode fazer com que o sei próprio ADN seja introduzido no ovo da sua parceira, criando um clone dele próprio. Mas será esta a atitude mais correcta, sabendo que no mundo de hoje há tantas crianças órfãs que necessitam de amor e carinho de uma família? Na minha opinião, não é lógico nem ético optar pela clonagem quando temos esta opção.
Há ainda outros que defendem que proibir a clonagem equivale a deter a ciência. Mas como escreveu Paul Ramsey “as coisas boas que os homens fazem só podem estar completas com as coisas más que eles recusam fazer”. Parar a clonagem humana não será travar a ciência mas sim não deixar que esta se descontrole, pois a ciência deve estar ao serviço do homem moral e não sobre este. Esta posição é apoiada pelo Papa e pela Igreja que concordam com este progresso científico, mas aliado ao progresso humano, moral e ético. Assim a ciência deve procurar outras formas de clonagem que não suponham a geração de embriões. É nesta direcção que deverá seguir a investigação se quer respeitar a dignidade de todos e cada um dos seres humanos, inclusive no seu estado embrionário. Assim, conclui-se que “submeter os seres humanos à clonagem não é assumir um risco desconhecido, é prejudicar as pessoas conscientemente”.

Ensaio Filosófico escrito pela aluna Joana Cardão, nº 11, 10º C, a 15 de Abril de 2010, ESSPS
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Fenomenologia: temos artistas!

A análise fenomenológica foi assunto tratado no segundo periodo. Se já não te recordas do texto, basta clicar aqui. Na altura o desafio lançado aos alunos do 11º ano foi claro, embora exigente: "pegar" no texto de N. Hartmann e ilustrá -lo. Sim, é isso mesmo... traduzir o texto (total ou parcialmente) em desenho ou criar uma banda desenhada. Os poetas, como se pode ver já a seguir, também tiveram o seu "momento de glória".
Parabéns a todos! - Superaram as expectativas.
Estou a cozinhar um «slideshow» com os desenhos - em breve conto colocá-lo aqui.

Para já, o poema da Carolina e do Patrick, do 11º B:
SIMBIOSE / CONHECIMENTO
Vivia solitária a amiba Prazeres
Assim como a bactéria Simão
Um encontro entre estes dois seres
Fez despertar neles uma relação de união

Sendo a bactéria o sujeito cognoscente
E a amiba o objecto conhecido
Uniu-se a bactéria e seu pretendente
E o seu enlace não pode ser destruído

Simbiose e conhecimento
São dois termos irmãos
Em ambos os casos
Os intervenientes nunca largam as "mãos"

A bactéria Simão respira pela amiba
Dona Prazeres vive para proteger Simão
As suas funções não são permutáveis
Embora relacionando-se por uma correlação

A bactéria sendo o sujeito
Desempenha um papel activo
Apreender/conhecer o objecto
É o seu grande objectivo

O objecto que é a amiba
Desempenha um papel passivo
Quer sempre ser conhecido
Pelo sujeito escolhido

Após um longo periodo
Simão abandona a sua amada
Levando consigo lembranças
Para que dentro dele, ela seja sempre recordada.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Eternas Dúvidas

Ufa! Aproximam-se os últimos testes. Espero que as vossas dúvidas sejam bem mais fáceis do que as da Frankelina! Coloquem-nas aqui! Eu prometo tentar responder objectivamente ...

E já agora ... entre o Popper e o Kuhn, o Mill e o Kant, tratem de arranjar um tempinho para deixar um comentário "final" aos temas abordados nas aulas de filosofia ou às próprias aulas. Com o fim do ano lectivo à porta, podemos fazer um balanço (seja ele qual for...)!


Bom estudo para todos!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Parabéns!


Foto: Prof. Paulo Paiva, página da ESSPS